Seminário de Orientadores Educacionais da Setrem debate novos olhares sobre o cuidado dos sujeitos da escola

Na manhã de sexta-feira, 22 de outubro, a Setrem realizou mais uma edição do Seminário de Orientadores Educacionais, com o tema ‘A escola e seus sujeitos: novos olhares sobre o cuidado’.

O evento, que já é tradicional e aguardado pela comunidade escolar, teve palestra com Lidiane Mahler e ocorreu no Auditório do Campus, reunindo mais de 80 profissionais da Educação, vindos de 30 escolas públicas e privadas da região e também das secretarias municipais de educação.

O vice-diretor de Ensino Superior da Setrem, Mauro Nüske, ao saudar os presentes, enfatizou que é significante voltar a receber os profissionais presencialmente em um evento tão aguardado, que busca aproximar as escolas com a Setrem, e também pelo compromisso social da Instituição que neste ano completa 99 anos.

“É fundamental ouvirmos as angústias, compartilharmos experiências e darmos apoio e suporte aos orientadores, que desempenham papel importante nas escolas, de acolhimento, acompanhamento e avaliação do desempenho dos estudantes”, destacou.

Para a orientadora educacional da Setrem, professora Marina Zucatto, o seminário foi um momento para reunir as pessoas que sempre cuidam dos outros nas escolas. “O orientador faz um papel de escuta e de acalento, seja para os professores, pais ou estudantes. Por isso, fazer esta ‘parada’ com eles é muito bom. Encontros assim são importantes para que os profissionais da educação se energizem novamente, para que possam ir às suas escolas e terem o contato com a comunidade escolar, transmitindo os conhecimentos adquiridos.”

O diretor-geral da Setrem, Sandro Ergang, também prestigiou o seminário e agradeceu aos participantes pela presença no encontro, preparado com carinho e com todos os cuidados sanitários.

A palestrante Lidiane Mahler iniciou a palestra citando uma frase de Paulo Freire. “Ninguém começa ser educador numa certa terça-feira às quatro da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática.”

Lidiane, que é psicóloga e professora com experiência na Educação Básica, Ensino Superior e Pós-graduação, proporcionou uma manhã de trocas de experiências, iniciando a palestra com a apresentação de dados de uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, Unesco e Itaú sobre os efeitos da pandemia para a comunidade escolar. Ela também explanou sobre o papel social da escola e do orientador educacional, fez uma reflexão acerca dos desafios encontrados para os estudantes e para os profissionais da educação, abordou sobre saúde mental em tempos difíceis e, por fim, falou de estratégias de um novo olhar para o cuidado.

Pesquisa mostra como professores da Educação Básica desenvolveram atividades no isolamento social

“Este assunto é supernatual porque vamos refletir sobre uma prática sem receitas anteriores de outro momento pandêmico. Nenhum de nós havia passado por isso antes. Vou trazer minhas experiências e juntos iremos refletir sobre o que vivenciamos, buscando estratégias para nos apoiarmos e conseguirmos construir um futuro mais próspero para a educação dos nossos estudantes e para nós enquanto orientadores/professores”, ressalta.

De forma resumida, Lidiane revelou que a pesquisa, do ano passado, intitulada ‘Educação escolar em tempos e pandemia na visão de professores da educação básica’ objetivou verificar como professores, das redes pública e privada, estavam desenvolvendo suas atividades no isolamento social, conciliando trabalho com vida privada e expectativa para o pós-pandemia. Participaram da pesquisa 14.285 docentes de todo Brasil, sendo a maioria mulher, com atuação na rede estadual e Ensino Fundamental. Foram entrevistados docentes de todo o país, mas a maior parte foi da Região Sudeste.

Ela trouxe dados sobre os efeitos do contexto, relação entre escola e família e apoio da escola aos profissionais. Em relação aos efeitos da suspensão das aulas presenciais para os alunos, a pesquisa mostrou que metade dos professores participantes (49,7%) entendeu que a aprendizagem dos alunos diminuiu. Ainda, a metade destes respondentes (53,8%) disse que aumentaram os números dos episódios com transtornos de ansiedade e depressão com os estudantes.

Sobre a realização das tarefas, a pesquisa mostrou que algumas escolas conseguiram se organizar por meio de plataformas, mas esta não foi uma realidade que pôde ser implementada para todos, o que fez com que a maioria das escolas optasse pela entrega de atividades. Destas, 33% eram feitas.

Com a suspensão das aulas, a maioria dos professores que respondeu à pesquisa disse que aumentou a relação da família com a escola, já que constantemente se contatavam, e o vínculo aumentou também. Ainda, a maioria dos docentes afirmou se sentir apoiado pela escola. “Mas e quem cuida de nós? Cuidamos de todos, mas quem pensou na saúde destes profissionais?”, indagou Lidiane.

Papel social da escola

Na sequência, a profissional convidou o grupo a refletir sobre o papel social da escola. “Isto impacta nas relações em tempos de pandemia, porque o compromisso social da escola está pautado, principalmente, nas relações humanas e éticas. Nós temos um compromisso importantíssimo na formação social de cidadãos, pois recebemos o indivíduo, formamos ele e o devolvemos para a sociedade, sendo que isso perpassa por todos os níveis de ensino. Portanto, o resultado do aluno é reflexo de todo um contexto. E o orientador é um ser que pertence à sociedade. Nós construímos, somos construídos, contribuímos e aprendemos também, estimulando novos saberes todos os dias”, complementou.

Na atualidade, segundo a psicóloga, o papel dos profissionais envolvidos na educação extrapolou a mediação do processo de conhecimento dos alunos. “Durante muito tempo, o professor ministrava a aula e ia para casa. Mas, esta missão, com a pandemia, se expandiu e se potencializou para fora da sala de aula, com o ensino remoto. Tínhamos uma rotina, com funções e lugares bem definidos, mas o ensino remoto levou tudo para nossas casas. Foi preciso reorganizar a rotina e aprender como trabalhar de casa.”

‘O fazer do orientador está intrinsicamente relacionado ao ato de sentir de todos os envolvidos no processo de construção do conhecimento’

O orientador educacional é o principal responsável pelo desenvolvimento pessoal de cada aluno, dando suporte a sua formação como cidadão, à reflexão sobre valores morais e éticos e à resolução de conflitos. Para Lidiane, é um campo de conhecimento e exercício profissional de suma importância e com relação sólida com toda comunidade, o que reforça a articulação junto à comunidade escolar.

“O fazer do orientador está intrinsicamente relacionado ao ato de sentir de todos os envolvidos no processo de construção do conhecimento, inclusive do seu próprio. Nós estamos envolvidos com tudo isso, mas também somos seres humanos e precisamos de cuidado.”

A palestrante afirmou que é notório que o ato de escutar o outro profissional é o diferencial na capacidade ímpar de concretização da prática. “Precisamos cuidar de todos os sujeitos da escola.”

Saúde mental: vivenciar emoções com equilíbrio

“Gosto de refletir sobre saúde mental porque é minha área de formação. Saúde mental não é somente a ausência da doença. Quando falamos disso, muitas pessoas têm preconceito, porque já associam à doença mental, atendimento psiquiátrico e medicamentos, por exemplo. Porém, quando falamos de saúde mental, estamos dizendo que ela é um estado, conforme a Organização Mundial da Saúde”, esclareceu.

Pessoas mentalmente saudáveis conseguem compreender e aceitar que não somos todos perfeitos, de acordo com Lidiane. “Saúde mental é vivenciar emoções com equilíbrio. Temos dificuldades e conflitos, todos os dias. Precisamos entender este momento que estamos vivendo, já que se frustrar faz parte, mas somos capazes de aprender com todas as situações. Percebo que a pandemia trouxe o movimento de valorização do professor, com discurso positivo das famílias. Não podemos ficar em uma posição de vitimismo, por isso falamos em resiliência, que é a habilidade de responder às frustrações e estresses diários, em todos os níveis, com superação e recuperação emocional.”

Estratégias de um novo olhar para o cuidado

Quanto mais o profissional da educação estiver fortalecido emocionalmente, mais pode contribuir com a equipe de trabalho, de acordo com Lidiane. Para ela, é necessário fortalecer as equipes, tendo momentos de integração e de construção de laços afetivos. “Essas estratégias estão relacionadas, pois consolidam vínculos e constroem práticas assertivas de autocuidado”, acrescenta.

A palestrante desafia os participantes a pensarem no cenário da escola. “Cada um tem um papel diferente. Não resolvemos todos os problemas e nem damos conta de tudo o tempo inteiro. Por isso existem as diversas funções. Mas, com equipes unidas, encontrar resoluções fica mais fácil. Cada um de nós está nesta profissão porque gosta, porque faz a diferença no seu dia a dia e tem um compromisso social.”

Lidiane ainda destaca que as práticas precisam ser fundamentadas e organizadas, pois a chance de ser assertivo é muito maior quando existe planejamento e ele é colocado no papel. “Precisamos antever situações, não esperar elas chegarem e não saber para onde se direcionar. Em tempos difíceis aprendemos muito. E tenho certeza que o professor jamais será substituído por plataformas digitais; elas contribuem na atividade, mas jamais irão nos substituir, pois nosso papel é importantíssimo.”

Ela finaliza a explanação afirmando que a pandemia trouxe um cenário ainda mais desafiador, que precisa ser compreendido de maneira aprofundada, a fim de gerar novos conhecimentos e mapear possibilidades de ações para o presente e futuro. “Precisamos estar atentos aos problemas da atualidade, pois não trabalhamos apenas conceitos, mas problemas sociais, econômicos, ambientais, enfim, temas que envolvem a nossa comunidade. Que tenhamos esperança, seguindo firmes este propósito, cuidando uns dos outros e de nossa saúde mental e se fortalecendo enquanto equipe dentro da nossa escola”, conclui Lidiane.

Avaliação do evento

“Nós participamos todos os anos do seminário para orientadores educacionais que a Setrem promove. Desta vez, viemos entre 15 profissionais prestigiar o evento. Gostamos muito e nos encantamos com o acolhimento da Setrem, pois sempre somos muito bem recepcionadas. A palestra da Lidiane é muito boa; nós já a conhecíamos e a fala dela sempre nos cativa. Agora, retornamos às nossas instituições e transmitimos as informações. Eventos assim nos fortalecem e é muito bom este espaço de interação”, classifica a coordenadora pedagógica da Secretaria de Educação de Santa Rosa, Maria da Graça Zimmermann, que participou do seminário.

A orientadora educacional Marina avalia como fundamental a reflexão sobre a prática docente e a prática do orientador educacional. “Este encontro ocorre há muitos anos e a cada nova edição percebemos o quanto ele é valido e está crescendo. Os retornos que temos são muito significativos e os participantes se sentem confortáveis e acolhidos, e isto nos alegra”, finaliza.

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